A Mala

Eu hoje fiz a mala!

Disse a mim mesma que não deveria de a fazer, que seria um desperdício de tempo, de expectativas, mas não resisti. E se fosse precisa?! Pior! E se eu não tivesse tempo de a fazer, de pôr lá tudo o que eu queria e que poderia ser necessário? Não, não quis correr riscos.. Mas já quantas e quantas vezes eu estive para a fazer e no último minuto ela nunca foi precisa, porquê logo hoje seria diferente?! Não sei.. Faço-a porquê talvez goste de a fazer, dá-me alento, um conforto estranho que chega a ser irracional, ilógico e um tanto obsessivo.

Faço-a como quem tenta fazer algo banal, pensando que é apenas uma mala de viagem que contém tudo o que poderá ser necessário para passar uma noite fora de casa. Estou a fazê-la e convenço-me disso. Tento abstrair-me que enquanto a faço, mais uma vez, deposito, além da roupa, do necessaire, dos sapatos e das meias, todos os meus sonhos. É só uma simples mala de viagem.

Saio de casa com ela na mão e sorrio, mais uma vez estou atrasada mas hoje posso culpa-la. Atiro-a para o porta-bagagens e fecho-o rapidamente, como quem esconde algo de si mesmo. Afinal ela pode não ser precisa e eu não quero ter que me confrontar com ela nesse momento.

Agora ela está ali. Vou ter que a desfazer novamente. Vou ter que tirar peça por peça, desejo por desejo, sonho por sonho. Vou fazê-lo com a maior das naturalidades, como quem já fez disso um gesto quotidiano que já se repete à mais anos do que devia. Não, não vou ficar triste. Vou guarda-la de novo com a certeza que na primeira oportunidade a voltarei a fazer. É apenas um ciclo que se repete sem um fim à vista. Suspiro resignada.